A irrigação tem sido utilizada para a videira em diferentes regiões do
mundo, principalmente para variedades de mesa. Em regiões áridas e semi-áridas,
a irrigação torna-se a principal fonte de água para a cultura, enquanto que em
outros locais ela pode ser usada de forma complementar à precipitação
pluvial.
Vários sistemas podem ser empregados para a irrigação da
videira, dependendo das condições de solo e de clima do local, bem como da
disponibilidade de equipamentos e de recursos financeiros. No Brasil, a maior
parte das áreas irrigadas com a cultura localiza-se em solos de textura média a
arenosa sendo a irrigação realizada, principalmente, empregando-se sistemas sob
pressão, como a aspersão, a micro aspersão e o gotejamento.
Irrigação por aspersão
Irrigação por gotejamento
Irrigação por micro aspersão
Eficiência de aplicação
Evapotranspiração da cultura
Manejo da Irrigação
Fertirrigação
Os sistemas por aspersão podem ser do tipo subcopa ou sobrecopa, conforme
aplicam água por baixo ou por cima das folhas, respectivamente (Fig. 1). Nos
sistemas subcopa há uma interferência dos troncos das plantas nos jatos de água,
o que prejudica a uniformidade de distribuição. Os sistemas sobrecopa molham as
folhas, aumentando as chances de ocorrência de doenças, além de apresentarem
maiores perdas de água devido à evaporação e ao arraste pelo vento. Essas perdas
podem ser minimizadas irrigando-se durante a noite. A irrigação noturna,
contudo, aumenta o tempo de molhamento das folhas e as chances para o
desenvolvimento de doenças.
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Figura 1. Aspersores subcopa (A) e sobrecopa (B).
(Foto: Marco Antônio Fonseca Conceição) |
Deve-se tomar cuidado, também, para evitar aspersores com alta
intensidade de precipitação em solos com problemas de infiltração. Isso porque,
nessas condições, a água fica empoçada, aumentando as perdas por evaporação e a
umidade do ar embaixo da parreira, o que pode prejudicar o controle
fitossanitário.
Na aspersão, as vazões e pressões são, normalmente, de
média a alta, exigindo motobombas de maior potência e demandando maior consumo
de energia em relação ao gotejamento e à microaspersão. Por outro lado, os
aspersores não necessitam de equipamentos de filtragem e apresentam uma menor
necessidade de manutenção.
Esses sistemas aplicam baixas vazões com altas freqüências, muitas vezes
diárias, umedecendo um volume de solo menor do que os outros sistemas, o que
reduz as perdas por evaporação. Por outro lado, nesse método, as plantas
tornam-se mais dependentes da irrigação, fazendo com que qualquer problema no
sistema afete de forma mais acentuada o desempenho da cultura. Os gotejadores
(Fig. 2) são bastante suscetíveis ao entupimento, necessitando, normalmente, de
filtros de discos (ou tela) e de filtros de areia (Fig. 3 e 4). Tem-se observado
a ocorrência de problemas sérios de entupimento nesses sistemas, principalmente
quando se utiliza água com altos teores de ferro.
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Figura 2. Tipos de gotejadores.( Foto: Marco Antônio
Fonseca Conceição) |
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Figura 3. Filtros e discos (A) ou tela (B). (Fonte:
Catálogo Carborundum) |
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Figura 4. Filtros de areia. (Fonte:
Catálogo Carborundum) |
Na irrigação por gotejamento, a fertirrigação torna-se praticamente
obrigatória, pois, se os fertilizantes forem aplicados em uma região do solo que
não estiver umedecida, eles não ficarão disponíveis para as plantas. Esse método
permite, por sua vez, que outras práticas culturais possam ser efetuadas durante
a aplicação de água, ao contrário da aspersão e da microaspersão.
Os sistemas de microaspersão (Fig. 5) também necessitam de filtros, sendo
comum, porém, empregar-se somente filtros de discos (ou tela), não necessitando
de filtros de areia. Nesses sistemas, podem ocorrer problemas com a entrada de
insetos e aranhas nos microaspersores, prejudicando a aplicação de água. Por
isso deve-se optar, sempre que possível, por microaspersores com dispositivos
antinsetos (Fig. 5).
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Figura 5. Sistema de irrigação por microsapersão em
videiras (A) e microaspersor com dispositivo anti-inseto (B). (Foto: Marco
Antônio Fonseca Conceição e catálogo Naan/Dan) |
Na microaspersão, os emissores são, normalmente, posicionados a cada duas
plantas, não havendo problemas de interferência dos troncos como na aspersão
subcopa. Os emissores de maiores vazões apresentam menos problemas de
entupimento e tempos de irrigação menores, requerendo, contudo, maior custo
inicial, por exigirem tubulações de maior diâmetro e motobombas de maior
potência. Sempre que possível, as tubulações devem ficar suspensas na parreira
(Fig. 5), evitando-se cortes por enxadas ou danos por máquinas e animais.
A eficiência de aplicação (EA) refere-se à relação entre o volume de água
disponível para a cultura e o volume aplicado pelo emissor. Pode-se obter altos
índices de eficiência empregando-se um dimensionamento correto do sistema,
equipamentos adequados e um manejo racional da água. Nos sistemas de aspersão,
microaspersão e gotejamento em videiras, os valores de EA variam normalmente de
80% a 90%. Isso quer dizer que entre 80% e 90% do volume de água aplicado ficará
disponível para a planta. Se a eficiência for baixa haverá a necessidade de se
aplicar um volume maior para compensar as perdas, significando um desperdício de
água e energia.
Para se determinar a quantidade de água a ser aplicada na irrigação,
deve-se conhecer a evapotranspiração da cultura (ETc), que engloba a evaporação
da água do solo e a transpiração das plantas. Logo após a poda, durante os
estágios iniciais de desenvolvimento dos ramos, há um predomínio da evaporação
da água do solo sobre a transpiração das plantas. Posteriormente, com o
desenvolvimento da área foliar, a transpiração passa a exercer o papel
predominante no processo.
A ETc é determinada multiplicando-se a
evapotranspiração de referência (ETo) da região pelo coeficiente da cultura,
denominado Kc (ETc = ETo x Kc). A ETo diária pode ser estimada por diferentes
métodos, sendo normalmente fornecida por serviços de meteorologia regionais
ligados a institutos de pesquisas ou universidades. Se não houver, contudo,
disponibilidade de dados diários, pode-se empregar valores médios históricos de
ETo. Na Tabela 1, são apresentados valores médios mensais de ETo para três
regiões produtoras de uvas finas de mesa do Brasil.
Tabela 1. Valores médios mensais (mm/dia) da
evapotranspiração de referência (ETo) em diferentes regiões vitícolas do Brasil
(1 mm = 1 L/m² = 10.000 L/ha).
Mês |
Jales, SP¹ |
Pirapora, MG² |
Petrolina, PE³ |
Janeiro |
4,6 |
5,5 |
5,7 |
Fevereiro |
4,4 |
5,4 |
5,7 |
Março |
4,2 |
5,1 |
5,2 |
Abril |
3,5 |
4,6 |
5,1 |
Maio |
2,9 |
4,0 |
4,8 |
Junho |
2,9 |
3,8 |
4,6 |
Julho |
3,3 |
3,9 |
4,9 |
Agosto |
4,2 |
4,7 |
5,7 |
Setembro |
4,4 |
5,3 |
6,3 |
Outubro |
4,7 |
5,6 |
6,7 |
Novembro |
4,8 |
5,5 |
6,6 |
Dezembro |
4,7 |
5,3 |
5,9 |
Fonte: ¹Embrapa Uva e Vinho; ²Inmet; ³Embrapa Semi-Árido.
A partir do valor de ETo determina-se a ETc, multiplicando-se a ETo pelo
coeficiente da cultura (Kc). O valor de Kc é função da variedade, do local, das
condições de manejo e do estádio de desenvolvimento da planta, sendo determinado
por meio de pesquisas na região desejada. De uma forma geral, o Kc varia entre
0,50 e 1,00, conforme o estádio de desenvolvimento da cultura, assumindo um
valor médio de 0,75. Para uma ETo, por exemplo, igual a 4,8 mm/dia e um Kc igual
a 0,75 a ETc será igual a 3,6 mm/dia (4,8 mm/dia x 0,75).
O método mais prático para se realizar o manejo é pela evapotranspiração
acumulada (ETca), que representa a soma dos valores da ETc diária entre duas
irrigações. O valor limite de ETca dependerá, principalmente, do tipo de solo e
do sistema de irrigação empregado, variando normalmente entre 10 mm e 30 mm. A
precipitação ocorrida no período deve ser descontada do valor de ETca, conforme
exemplo apresentado na Tabela 10, onde se considera um valor de ETca igual a 20
mm.
Tabela 2. Valores médios mensais (mm/dia) da
evapotranspiração de referência (ETo) em diferentes regiões vitícolas do Brasil
(1 mm = 1 L/m² = 10.000 L/ha).
DIA |
ETo
(mm) |
Kc
(mm) |
ETc
(mm) |
P |
ETca
(mm) |
I
(mm) |
1 |
3,1 |
0,75 |
2,3 |
|
2,3 |
|
2 |
4,2 |
0,75 |
3,1 |
|
5,4
(2,3 + 3,1) |
|
3 |
5,0 |
0,75 |
3,7 |
|
9,1
(5,4 + 3,7) |
|
4 |
5,1 |
0,75 |
3,8 |
|
12,9
(9,1 + 3,8) |
|
5 |
4,6 |
0,75 |
3,4 |
|
9,3
(12,9 + 3,4 - 7,0) |
|
6 |
5,1 |
0,75 |
3,8 |
|
13,1
(9,3 + 3,8) |
|
7 |
4,8 |
0,75 |
3,6 |
|
16,7
(13,1 + 3,6) |
|
8 |
4,7 |
0,75 |
3,5 |
|
20,2
(16,7 + 3,5) |
20,2 |
9 |
4,5 |
0,75 |
3,4 |
|
3,4 |
|
10 |
4,7 |
0,75 |
3,5 |
|
6,9
(3,4 + 3,5) |
|
P = precipitação pluvial; LI = lâmina de irrigação; ETo =
evapotranspiração de referência; Kc = coeficiente da cultura; ETc =
evapotranspiração da cultura (ETc = ETo x Kc); ETca = evapotranspiração
acumulada.
Para saber se os critérios adotados no manejo estão adequados (Kc, turno
de rega), deve-se monitorar a umidade do solo, empregando-se aparelhos
denominados tensiômetros, que consistem em uma cápsula de porcelana porosa
fixada a um tubo de PVC com tampa onde é colocada água (Figura 6). O tubo é
inserido no solo com a cápsula posicionada na profundidade desejada. Quanto mais
seco o solo mais a cápsula perderá água e maior será a tensão registrada no
vacuômetro. Deve-se repor, periodicamente, a água no tubo de PVC, evitando a
formação de bolhas de ar, o que prejudica a leitura do aparelho. A altura da
coluna de água dentro do tensiômetro deve ser descontada da leitura observada.
Se o tensiômetro apresentar, por exemplo, uma leitura de 22 kPa e um comprimento
de 0,5 m, representando 5 kPa (10 kPa = 1,0 m de coluna de água = 0,1 atm = 0,1
bar), a tensão real será de 17 kPa (22 kPa - 5 kPa).
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Figura 6. Tensiômetro com vacuômetro para medir a
tensão da água no solo. (Fonte: Silveira & Stone
(1994) |
Recomenda-se que a tensão máxima da água do solo na região das raízes da
videira deve ser inferior a 20 kPa. Como a maior parte das raízes se concentra
até, aproximadamente, 40 cm a 60 cm, os tensiômetros devem ser instalados para
que as cápsulas fiquem entre 20 cm e 30 cm de profundidade. Deve-se instalar,
também, tensiômetros em uma profundidade abaixo das raízes, para controlar as
perdas por drenagem profunda. Em uma área de 1,0 ha, deve-se instalar, pelo
menos, três tensiômetros na região radicular e três abaixo das raízes,
totalizando seis aparelhos na área. Os tensiômetros devem ser instalados a ¼ da
distância entre plantas. Se o espaçamento entre plantas for, por exemplo, igual
a 2,0 m, os tensiômetros devem ser instalados a 0,5 m das plantas, que devem ser
representativas da área cultivada.
Muitos produtores costumam avaliar a
umidade do solo apenas na sua superfície, o que é um erro, uma vez que ela seca
alguns dias após a irrigação, ajudando a reduzir as perdas por evaporação.
Deve-se ressaltar assim que, quando a superfície seca, é comum que a região mais
profunda do solo onde estão as raízes permaneça ainda com um alto teor de
umidade.
A fertirrigação é a aplicação de fertilizantes através da água de
irrigação. As principais vantagens desse método são a economia de mão-de-obra; a
aplicação dos nutrientes na mesma área em que está sendo aplicada a água,
aumentando a disponibilidade para a cultura; e a possibilidade de aumentar a
freqüência de aplicação de fertilizantes, aumentando a sua eficiência e
reduzindo as perdas.
Os equipamentos mais empregados para a injeção de
fertilizantes são as bombas injetoras que succionam a solução fertilizante do
reservatório e a injetam na tubulação sob pressão; o tanque injetor, onde a
solução fica armazenada em um recipiente fechado (o tanque) e parte da água de
irrigação é derivada para dentro desse recipiente, retornando posteriormente à
tubulação junto com os fertilizantes; e o injetor do tipo Venturi que causa um
estrangulamento na linha de irrigação, proporcionando uma sucção do fertilizante
que está em um reservatório conectado ao Venturi. As bombas injetoras e o
Venturi aplicam os fertilizantes a uma taxa constante de concentração. No tanque
injetor, por outro lado, a concentração é alta no início e vai se reduzindo aos
poucos com a aplicação.
Não se deve injetar os fertilizantes no início da
aplicação de água, aguardando-se para que o sistema entre em equilíbrio
hidráulico. Deve-se, assim, iniciar a aplicação de adubos após ter passado 25%
do tempo de irrigação (TI), devendo-se cessar a injeção quando faltar cerca de
25% do TI, para poder-se lavar a tubulação e permitir que os fertilizantes se
infiltrem no solo. Se o tempo de irrigação for, por exemplo, de quatro horas,
deve-se iniciar a injeção de fertilizantes após uma hora e terminá-la após duas
horas, deixando uma hora para lavagem da tubulação.
A época e a
freqüência de aplicação dos fertilizantes vão depender da curva de absorção de
nutrientes da planta, do sistema de irrigação utilizado e do manejo da
irrigação. A fertirrigação pode ser diária com doses reduzidas dos produtos, por
exemplo, em sistemas por gotejamento, por exemplo. O mais comum, entretanto, é
realizar a fertirrigação com um intervalo maior, principalmente em sistemas de
aspersão e microaspersão |